22 de março de 2011

A Régua

O tom de voz muda. A preocupação aumenta. De repente há a percepção que a voz mudou de tanta preocupação. E não só a voz, lá se vão a pressão arterial, o sorriso que estava no rosto há cinco minutos, a vontade de curtir um sábado à noite, tudo se vai. O que causou esta preocupação? Uma lembrança!

Ah, mas por que uma lembrança ia causar tanto mal-estar, a ponto de desaparecer toda essa vontade de viver a vida? Culpa da mania e da dificuldade que eu, você que está aí lendo e todo mundo tem de superar algumas coisas e dar um novo começo. Tem hora que a melhor coisa a fazer é passar uma régua na vida. Lembra na escola que pra terminar um assunto e começar outro a gente fazia uma linha com uma régua? Então, quando a gente se desvincula de coisas importantes da nossa vida, mas que (in)felizmente passaram, temos quefazer um risco e determinar: minha vida será do risco pra cima e do risco pra baixo, que é a parte do papel, quando nós passamos uma régua, que está em branco.

Perceba, não estou falando aqui de apagar as lembranças. Elas estão lá, acima da régua. Mas o assunto já é outro, o tema da vida já é outro. O assunto que passou já não importa mais, apesar de estar ali o tempo todo, pra quando quisermos lembrar alguma coisa de importante. Agora, não me venha dizer que é importante lembrarmos de coisas que nos machucam. Num caderno de escola, nós nunca voltaríamos depois de um tempo para verificar aquela advertência que a supervisora nos deu lá atrás... Assim tem que ser nessas horas. Não volte pra lembrar o que te incomoda, apenas o que te faz bem.

Já diz aquela mensagem que foi traduzida pelo Pedro Bial que preocupação é tão eficaz quanto mascar chiclete pra tentar resolver uma equação. Você acha que aquilo vai te ajudar a resolver, mas não vai. Tem que resolver alguma coisa? Lute e resolva. Está resolvido? Esquece, não fica procurando motivo pra voltar. Isso, pra não dizer que é imbecilidade, é perda de tempo. Passe a régua.

Experimente a sensação do recomeço. A sensação de meditar e esquecer, e começar de novo, e de novo, e de novo, até acertar. A busca da felicidade plena é incessante. A busca por viver a vida com intensidade não deve nem existir. Devemos ser intensos sempre.

É difícil, eu mesmo escrevendo aqui não faço isso muitas vezes. Mas já percebeu o que ficar lembrando de coisas já resolvidas e que você quer resolver de novo, só pra ter o prazer (??) de ver o problema sendo novamente debatido, como se ainda tivesse assunto, traz pra ti? Os resultados são os piores possíveis. Brigas, ciúmes, inveja, rancor, muito rancor, e aquela situação chata de um não olhar pra cara do outro, não querer encarar a vida, evitar certos lugares, não traz nada de bom.

Veja os problemas superados como aprendizado, mas não como fonte permanente para aprender algo. Passe a régua. Siga em frente. Recomece. Tente outra vez.

Maria Rita - Não Vale a Pena
(Jean Garfunkel / Paulo Garfunkel)
(c) 2003 Warner Music do Brasil

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